Ao longo dos caminhos de pedra e barro da antiga Estrada Real, que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro, passando por vilarejos como Tiradentes, São João del-Rei e Mariana, viajantes sussurram sobre uma assombração que ainda cavalga nas noites silenciosas: o Cavalo Fantasma.
A Estrada dos Ricos… e dos Mortos
Nos séculos XVIII e XIX, a Estrada Real era o coração do ciclo do ouro. Milhares de pessoas cruzavam seus caminhos: mineradores, escravos, tropeiros, soldados e comerciantes. Mas também era uma rota perigosa, repleta de assaltos, traições, assassinatos e injustiças.
Dentre tantas histórias trágicas, uma se destaca…
O Cavaleiro Traído
Reza a lenda que, por volta de 1760, um capitão da guarda real, encarregado de escoltar ouro para a Coroa, foi traído por seus próprios homens. Ambiciosos, eles o emboscaram numa noite chuvosa próximo à atual cidade de Conselheiro Lafaiete, mataram-no a sangue frio e enterraram o corpo em segredo.
Seu cavalo, um belo alazão negro, fugiu para a mata. Dizem que, desde então, ele nunca mais foi visto vivo. Mas à meia-noite, nas noites sem lua, cavaleiros e viajantes relatam o mesmo fenômeno:
“Ouvem-se cascos galopando sobre pedras… um relincho profundo corta o silêncio… e então surge, das brumas da estrada, um cavalo escuro como a noite, com os olhos em chamas e sem ninguém montado.”
O mais aterrador? Ele para, encara o viajante… e desaparece.
O Aviso dos Antigos
Os mais velhos dizem que esse cavalo é a alma do próprio animal, que procura eternamente o corpo de seu dono e deseja vingança contra os traidores. Dizem que quem tenta segui-lo, se perde. Quem tenta tocá-lo, enlouquece. E quem escuta três relinchos consecutivos do fantasma… está com os dias contados.
Em algumas versões, o cavalo aparece montado por um esqueleto em farda militar, com o capacete da guarda portuguesa e um sabre enferrujado, uma visão que causa desmaios e até mortes súbitas.
Outros dizem que o animal guarda um tesouro amaldiçoado, enterrado nas margens da Estrada Real. Mas para encontrá-lo, é preciso seguir o cavalo até o amanhecer… e ninguém jamais voltou.
Até hoje, quem percorre a Estrada Real evita viajar à noite sozinho. Os tropeiros ainda deixam oferendas — fumo, ferraduras e moedas, nos marcos da estrada. E toda vez que o vento sopra forte entre os eucaliptos, alguém se benze, murmurando:
“Vai-te embora, cavalo do além… leva contigo só o que já morreu.”