Nas trilhas antigas de Sabará, cidade do ciclo do ouro mineiro, existe uma cruz isolada, de madeira escurecida pelo tempo, inclinada como se quisesse tombar. A esse marco solitário, envolto por mato e silêncio, o povo deu o nome de Cruz Quebrada. E com ele veio uma das mais antigas e assustadoras lendas da região.
Uma Tragédia do Passado
Reza a história que, nos tempos coloniais, havia um pequeno povoado no alto do morro, habitado por garimpeiros e suas famílias. Uma moça chamada Mariana, de beleza e fé singelas, costumava subir até aquele ponto para rezar diante da cruz fincada ali, símbolo de proteção contra assombrações e tragédias.
Um dia, um militar português, forasteiro de modos rudes, passou pela vila e se encantou por Mariana. Tentou cortejá-la, mas foi rejeitado. Enfurecido, esperou por ela no alto do morro, junto à cruz, e ali cometeu um terrível crime. Mariana foi assassinada, e seu corpo jamais encontrado. A única testemunha foi a cruz, que se rachou sozinha naquela noite, emitindo um estalo seco que ecoou pela vila.
O Lugar das Almas
Desde então, ninguém teve mais coragem de se aproximar da cruz durante a noite. Dizem que a alma de Mariana vaga por ali, envolta em luzes suaves, sussurrando preces ou chamando por justiça. Outros afirmam que gritos e passos são ouvidos ao redor, mesmo quando não há viva alma no local.
A cruz, embora reparada inúmeras vezes, sempre volta a se partir em uma das extremidades. É como se ela recusasse o descanso, como se quisesse lembrar a todos do crime e exigir punição que nunca veio.
Um Lugar de Promessas
Até hoje, devotos sobem até a Cruz Quebrada para acender velas e rezar pelas almas injustiçadas. Alguns levam flores para Mariana. Outros deixam oferendas por proteção. Há quem jure que aqueles que zombam do lugar acabam tendo sonhos perturbadores ou caem doentes inexplicavelmente.